* Por prof. Adriano Augústto

Nos últimos meses, surgiram notícias preocupantes sobre grandes fundos de investimento, como BlackRock, Goldman Sachs e J.P. Morgan, abandonando seus compromissos climáticos. Além disso, empresas como McDonald’s e outras, incluindo Meta e JBS, também anunciaram mudanças que enfraquecem políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) e sustentabilidade.
Esses movimentos alimentam dúvidas cada vez mais frequentes: será que o ESG está com os dias contados? Até que ponto o ESG é percebido como algo realmente estratégico pelas organizações?
Porém, o que esses movimentos realmente demonstram é a imaturidade de algumas Organizações em lidar com questões ambientais, sociais e de governança. Essa “dança” entre valorizar e abandonar a agenda ESG reflete uma falta de clareza estratégica. Muitas empresas, ao adotarem compromissos ESG, o fazem em resposta a pressões externas, mas sem integrá-los profundamente na sua visão de negócios. Assim, quando as condições políticas ou econômicas mudam, esses compromissos se tornam os primeiros a serem descartados. É uma atitude de curto prazo que desconsidera os benefícios de longo prazo e a inevitabilidade de se adaptar a essas questões.
A agenda ESG, na verdade, não surgiu recentemente. O termo foi introduzido em 2004 por meio de uma publicação da ONU, mas só ganhou força nos últimos seis ou sete anos, à medida que investidores e empresas passaram a reconhecer sua relevância estratégica. No entanto, as discussões sobre questões ambientais e sociais no mundo dos negócios remontam a décadas anteriores, frequentemente impulsionadas por tragédias ambientais e crises sociais que evidenciaram a necessidade de uma abordagem mais responsável e sustentável para a gestão corporativa.
Dessa forma, a inclusão de aspectos ESG nas análises de negócios não pode ser vista como uma moda passageira, mas como uma evolução necessária e estratégica para as empresas que buscam prosperar de forma resiliente no longo prazo.
Uma questão de sobrevivência...
Mesmo o CEO da BlackRock, Larry Fink, que recentemente recuou no uso explícito do termo ESG, continua reconhecendo a importância desses temas. Em suas conversas, ele destaca que questões como mudanças climáticas, transição energética, saúde e bem-estar dos funcionários, gestão de riscos e compliance não são mais escolhas, mas questões de sobrevivência. Empresas que ignoram esses desafios estão negligenciando não apenas seus impactos no planeta e na sociedade, mas também os riscos à própria continuidade de seus negócios.
Ainda assim, historicamente, muitos gestores e executivos permanecem céticos em relação ao ESG. Afinal, por que se preocupar com sustentabilidade quando se pode simplesmente ignorar décadas de evidências e insistir que o curto prazo é o único horizonte que importa?
Essa resistência não é nova e, em muitos casos, remonta à velha crença de que sustentabilidade não gera valor financeiro — uma tese já refutada inúmeras vezes, mas que segue sendo reciclada, ironicamente, sem nenhum compromisso com a economia circular.
O curioso é que, ao desprezar o ESG, esses gestores frequentemente vão contra os próprios interesses de suas empresas. Negligenciar seus benefícios equivale a fechar os olhos para estudos e evidências que demonstram como ele impulsiona resultados financeiros e operacionais.
De olho nos dados
Diversos estudos confirmam que, no longo prazo, empresas comprometidas com práticas ESG apresentam melhor desempenho financeiro. Uma metanálise conduzida pela Universidade de Nova York analisou mais de 1.000 estudos publicados entre 2015 e 2020, revelando que 58% das empresas que adotaram estratégias ESG obtiveram resultados financeiros superiores, enquanto 59% enfrentaram menor volatilidade durante crises. Ou seja, existe uma correlação positiva entre práticas ESG e o desempenho econômico das Organizações. Além disso, práticas ESG podem mitigar riscos operacionais e fortalecer a confiança de investidores e consumidores.
Correlação entre ESG & Desempenho Financeiro

Além disso, estudos da McKinsey mostram que empresas que promovem a diversidade não apenas se tornam mais inovadoras, mas também obtêm melhor desempenho financeiro. Equipes diversas estimulam a criatividade, aprimoram a resolução de problemas complexos e criam uma cultura organizacional mais ágil e adaptável.
Como reflexo dessa maior capacidade de inovação, essas empresas têm 45% mais chances de expandir sua participação de mercado e 70% mais probabilidade de conquistar novos mercados. A diversidade na liderança também se traduz em vantagem competitiva: empresas no quartil superior em diversidade de gênero nas equipes executivas têm 21% mais chances de superar financeiramente seus pares, enquanto essa probabilidade aumenta para 33% quando há diversidade étnica e cultural na gestão.
Assim, abrir mão do ESG é, essencialmente, renunciar a vantagens competitivas, limitar o potencial de inovação e comprometer melhores resultados financeiros no longo prazo.
Veja também: A importância dos relatórios de sustentabilidade.
Foco no longo prazo
Para quem acompanha Sustentabilidade e ESG há mais tempo, esse movimento pode ser comparado às ações na bolsa de valores: em alguns momentos, enfrentamos quedas e retrocessos, mas a tendência de longo prazo é, geralmente, de crescimento. A volatilidade momentânea não significa fracasso, mas faz parte de um processo natural de amadurecimento. Assim como nos mercados financeiros, momentos de baixa testam a resiliência dos investidores, e no caso do ESG, testam a convicção e a capacidade de adaptação das empresas e dos profissionais da área.
É verdade que este ano pode ser especialmente desafiador para os profissionais que trabalham com ESG e sustentabilidade. Mas, se olharmos para trás, essa não é a primeira — e certamente não será a última — vez que a pauta sofre resistência. Desde sua ascensão, o ESG sempre encontrou obstáculos dentro das empresas, seja pelo ceticismo de lideranças, pela falta de prioridade no planejamento estratégico ou pelos ciclos políticos e econômicos que ora favorecem, ora enfraquecem o tema. Para quem atua nessa área, conquistar espaço dentro das Organizações sempre exigiu paciência, persistência e estratégia.
Não, o ESG não vai acabar...
O momento atual pode parecer sombrio, mas períodos de retração não devem ser vistos como um ponto final, e sim como uma fase do ciclo. São nesses períodos que os profissionais mais engajados mostram sua força, utilizando estratégias que vão desde a atuação mais discreta e estratégica, em que seguem impulsionando mudanças dentro das empresas sem chamar atenção para a agenda ESG, até a resistência ativa, em que assumem um papel mais combativo e exigem compromissos mais sólidos. Acima de tudo, o que diferencia os que seguirão relevantes no futuro é a capacidade de se adaptar sem perder de vista o propósito maior da sustentabilidade.
Em resumo, o ESG não vai acabar. Ele está se consolidando como uma parte essencial da estratégia de negócios para empresas que desejam prosperar em um mundo cada vez mais desafiador. Como em qualquer grande transformação, haverá ciclos de avanços e retrocessos, mas a direção geral continua sendo de crescimento. A verdadeira questão não é se o ESG vai sobreviver, mas quais organizações e profissionais estarão preparados para liderar essa transformação — e quais ficarão para trás.
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